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As Razões de Colman

Daniel  F.
Editor Chefe
4 min. de leitura
Daniel Colman

O Big One for One Drop, a par do Main Event, era o torneio mais aguardado desta décima edição das WSOP. Os valores de participação aliados à caridade colocaram muitos dos grandes nomes do poker mundial a disputar este torneio. E se antes do torneio começar, o que fazia alguma celeuma nos fóruns e redes sociais eram as acções que cada profissional tinha vendido. No rescaldo do torneio a polémica parece estar instalada por motivos bem diferentes. Como costuma acontecer nestes casos, assistimos a posições divididas de vários profissionais e que levam também a posições divididas dos fãs e pessoas que seguem estas noticias.

Tudo começou logo após a vitória de Daniel Colman no torneio em que embolsou $15,306,668. Colman não quis dar as tradicionais entrevistas e falar sobre a vitória. Uma posição que foi bastante criticada, não só pelos meios de comunicação mas também por alguns profissionais do jogo.

No inicio do heads-up que levaria à vitória de Colman, falava-se num duelo entre a "old-school", com Negreanu num ponta da mesa e a "new-school" representada por Colman na outra ponta. As diferenças entre os dois ficaram ainda bem mais patentes quando Negreanu deu esta entrevista à Pokernews e Colman se recusou a prenunciar sobre o evento. Na altura o nosso colega Rich Ryan desvendou alguns dos motivos que estavam por de trás da recusa de Colman e criticou o jogador norte-americano, tal como Case Keefer, do Las Vegas Sun que o chamou de "criança petulante".

Perante tanta polémica em torno da sua posição, Daniel Colman resolveu publicar a sua justificação para a atitude que teve no evento mais mediático do momento das WSOP. Ele escreveu o seguinte post no forum 2+2:

Não devo explicações a ninguém mas mesmo assim vou dar...

Primeiro, eu não devo nada ao poker. Tive a felicidade de beneficiar financeiramente do jogo, mas jogo há tempo suficiente para ver o lado feio deste mundo. Não é um jogo onde os profissionais estejam sempre felizes a viverem uma vida em grande estilo. Ter uma profissão onde você está constantemente à mercê da variância pode ser incrivelmente estressante e pode levar a muitos hábitos nada saudáveis. Nunca, num milhão de anos, recomendaria a alguém ser profissional de poker.

Também não é um jogo onde os amadores estejam sempre felizes por perderem o seu dinheiro, para bem do entretenimento. Neste jogo, os perdedores perdem muito mais dinheiro que o que os vencedores ganham. Sendo que muito desse dinheiro faz-lhes falta. É claro que tudo isto é aceitável, pois se você é burro o suficiente para jogar com o dinheiro que lhes faz falta, o problema é seu. No entanto eu não aceito muito bem esse argumento. Num mundo perfeito, os mercados são compostos por consumidores informados que fazem transações racionais. Infelizmente, na vida real esse não é o caso, os mercados baseiam-se na publicidade que tenta jogar com os impulsos das pessoas, e apontam às suas fraquezas para que estas cometam decisões irracionais. Eu percebo alguém quer jogar poker por livre e espontânea vontade, mas não concordo com a publicidade ao jogo, tal como não concordo com a publicidade aos cigarros e bebidas alcoólicas.

Perturba-me que as pessoas se preocupem tanto com o bem-estar do poker. Pois o poker é um jogo que tem um efeito negativo nas pessoas que o jogam. Tanto financeiramente como emocionalmente.

Quando à auto-promoção, eu sinto que as conquistas individuais raramente devem ser celebrados. Não vou fazer parte disso por causa de terceiros e não o quero para mim. Se você se perguntar porque é que a nossa sociedade se inspira tanto nos indivíduos e nos seus sucessos pessoais, e de ser um baller, não é assim por acaso. É assim porque tem um objectivo claro. Se você fizer com que as pessoas sigam um exemplo, e adiram à ideia de "ganhar dinheiro e esquecer tudo o resto menos a própria pessoa", então você consegue fazer com que ignorem o contrato social, o que é muito bom para sistemas de poder. Também serve como distracção, fazendo com que as pessoas não se concentrem nas coisas que realmente importam.

Estes são apenas os meus pontos de vista. E sim, sei que estou em conflito. Eu ganho dinheiro neste jogo, que explora as fraquezas das pessoas. Gosto do jogo, adoro a parte da estratégia, mas vejo-o como um jogo muito sombrio.

Isto estoirou como uma bomba e o twitter ontem não parou com tantas mensagens sobre o assunto. Mais uma vez cada um está de um lado da barricada e parece não haver um consenso sobre o assunto. Muitos aplaudem a atitude de Colman e acham que fez bem mostrar o outro lado do poker com o qual não se identifica. Enquanto outros pensam que ele está a ser hipócrita e falso moralista porque foi a publicidade e o jogo online que lhe deram a possibilidade de ele jogar o One Drop e ter a vida que tem, e até pedem para ele doar o prémio para a caridade.

E você? Que você pensa sobre isto?

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Daniel  F.
Editor Chefe

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