Jason Koon repensa vida no poker após 20 anos: "Quero jogar com propósito"
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Por mais de uma década, Jason Koon tem sido uma presença constante no topo do poker high stakes. O craque norte-americano acumulou dezenas de milhões em premiações, uma posição de destaque na All-Time Money List e o respeito de colegas ao redor do mundo.
Mas, após quase 20 anos buscando cada mínima vantagem que o jogo pudesse oferecer, Koon não está mais interessado na rotina exaustiva do grind. Ainda atuando como Embaixador da Triton Super High Roller Series e do PokerStars, ele não está se afastando — está avançando com clareza, propósito e um novo tipo de vantagem. Uma que não é definida por volume, mas por intenção.
"Não estou chamando de minha última etapa," disse ele ao PokerNews. "Mas quero tratá-la como se fosse. Quero estar animado para jogar e ter um pouco de humildade e também de gratidão por tudo que pude fazer nos últimos 18 anos."
Koon ainda compete no mais alto nível, mas com uma consciência maior dos impactos físicos e emocionais. Estar longe da esposa, Bianca, e dos dois filhos pequenos agora pesa muito mais. E com isso surgiu uma regra inegociável:
"Jamais vou passar uma semana longe da minha família. Não importa quanto eu tenha que gastar com viagem, eles vão comigo. Se for por mais de uma semana, eles estarão comigo."
Ele também está fazendo algo quase impensável para um profissional de elite: escolhendo jogar menos.
"Quando eu jogar, será com mais intenção. Isso é algo muito importante para mim. Nesta fase da minha vida, sempre que eu sentar à mesa, quero ter propósito, quero ser o melhor que posso ser naquele dia. Me desapegar das pressões e simplesmente aproveitar mais.
"Quando eu aparecer, quero que vejam a minha melhor versão."
Precisão, Presença e Poker Como Negócio
Atualmente, Koon é muito mais seletivo sobre onde e quando joga — não porque perdeu a competitividade, mas porque as apostas agora envolvem mais do que dinheiro.
"Para mim, ‘dessensibilizado’ não é a palavra certa. Desde que conheci minha esposa, percebi que não posso sair jogando dinheiro para todo lado. Construir patrimônio se tornou algo muito importante para mim. Então [jogar poker] virou um negócio que eu e minha esposa aprendemos a administrar com eficiência.
"Temos grandes bancos de dados para entender as oscilações do jogo. Tudo está planejado até o último centavo. Sabemos como preciso abordar cada um desses torneios. Assim, não é como se eu estivesse colocando meu bankroll na mesa e deixando rolar."
"São poucos os jogadores de poker que constroem riqueza para gerações. Isso exige muita disciplina e trabalho duro."
Talento é essencial. Mas Koon acredita que o sucesso de longo prazo — verdadeira riqueza geracional — exige algo raro no poker: disciplina operacional.
"São poucos os jogadores de poker que constroem riqueza para gerações. Isso exige muita disciplina e trabalho duro. Há muitos jogadores talentosos por aí, mas a maioria é péssima em gerir um negócio. Você precisa ser tão bom quanto nisso se quiser acumular riqueza. Sou muito sensível aos valores envolvidos. Estou atento a cada dólar. Mas com tudo que fiz financeiramente e mentalmente para me preparar, seja um torneio de US$ 1 ou de US$ 1.000.000, vou jogar como se fossem iguais."
Essa preparação vai além do dinheiro. Trata-se de manter a clareza mental, evitar o ego e preservar sua liberdade emocional nas mesas.
"Se observarmos as edges, elas são pequenas nos níveis mais altos. Há muitos jogadores incríveis por aí, e a indiferença pode ser o fator que faz alguém jogar seu C-game ou seu A-game.
"Se você vê alguém sentado ali, desmotivado, sem querer estar naquele lugar — mesmo que seja o jogador mais talentoso do mundo — eu prefiro ser o cara que está concentrado, se divertindo e querendo vencer. Essa batalha, de fazer aquilo importar, é muito importante para mim."
Protegendo o Jogo
Esse foco também alimenta sua defesa por um poker mais seguro e transparente. Koon tem se posicionado cada vez mais sobre a necessidade de evolução no jogo, especialmente diante dos avanços tecnológicos ligados a trapaças.
"Acho que já estamos vendo mudanças. O tom da conversa está mudando no EPT, celulares estão sendo colocados em caixas trancadas na Triton. Algumas medidas estão acontecendo.
"As pessoas não fazem ideia de como a tecnologia está avançada. Já houve muitas trapaças de altíssimo nível em jogos privados de cash. Isso geralmente é encoberto porque ninguém quer que a partida morra, ou que outros pensem que estão sendo enganados. Eu adoraria ver medidas implementadas antes de aprendermos da pior forma. Tenho receio de que só algo drástico vá mudar isso — como alguém usando RTA embutido em óculos escuros."
"Em qualquer lugar onde há muito dinheiro em jogo, vai haver trapaça — e ela será sofisticada."
"Não se trata de paranoia, mas você precisa assumir que, se existe a possibilidade, alguém vai tentar. E onde há muito dinheiro em jogo, vai haver trapaça — e ela será sofisticada."
Legado, Família e o Que Vem Pela Frente
Hoje, os momentos fora das mesas têm ainda mais importância para Koon. Seus filhos — de três anos e meio e quase dois — são o centro da sua vida.
"Meus meninos têm três anos e meio e 22 meses. Em vez de manter um diário, escrevo um e-mail todos os dias contando o que está acontecendo na minha vida. Daqui a 16 anos, vou entregar os e-mails para eles. É uma forma de estar presente e, ao mesmo tempo, desabafar."
Ele não está correndo atrás de braceletes ou rankings — mas sim de excelência, tranquilidade e tempo de qualidade.
"Neste momento, acho que o dinheiro vai continuar vindo, mesmo jogando muito menos, desde que eu me dedique por completo sempre que jogar. E eu não consigo fazer isso jogando todos os dias. É impossível. E eu acabaria enlouquecendo!"
"Vou fazer 40 anos em agosto — um número meio surreal. Nem parece. Ainda me sinto como um garoto."
"...não tem muito que eu mudaria na minha vida. Minha vida é perfeita."
Com a World Series of Poker prestes a começar, Koon já sonha com meados de julho, quando poderá descansar após meses intensos de torneios.
"Essa época do ano é ótima porque sei que fiz meu trabalho, a WSOP está chegando ao fim, e aí poderei tirar um mês só para ficar ao ar livre com meus filhos. Vamos tentar subir para as montanhas, provavelmente em Tahoe, e passar boa parte de julho por lá."
Mas, antes disso, ainda tem o "pequeno detalhe" da WSOP — e às vezes, o jogador de poker das antigas ainda dá as caras.
"Ganhar um bracelete seria ótimo. Vencer o de US$ 250.000 seria incrível. Mas, sinceramente, não tem muito que eu mudaria na minha vida. Minha vida é perfeita."
Fotos: Triton Super High Roller Series
