Ueltom Lima em Entrevista Exclusiva ao PokerNews
Com o ano de 2017 já no fim, o PokerNews entrevistou Ueltom Lima, Presidente da Confederação Brasileira de Texas Hold'em (CBTH), que nos contou algumas novidades para este ano no que diz respeito ao poker no Brasil.
A nova campanha #JoguePokerFaçaAmigos é uma aposta forte da CBTH para dinamizar ainda mais o esporte da mente e tentar dobrar o número de adeptos no país nos próximos anos. Com um discurso bastante determinante na luta pelo poker brasileiro, Ueltom falou ainda da regulamentação dos jogos online, da sucessão de Igor Trafane e levantou um pouco o véu sobre novos projetos para 2018.
Confira já aqui a entrevista:
Estamos quase chegando a um ano na sucessão de Igor Trafane como presidente da Confederação Brasileira de Texas Hold’Em. Como foi até agora ter este peso de suceder a uma figura incontornável do poker brasileiro?
Ueltom Lima: “Existe um lado muito positivo e um lado muito difícil. O lado difícil é substituir um cara que ganhou tanto respeito e tanta credibilidade no conjunto da nossa comunidade do poker nos últimos 10 anos. Igor é quase uma unanimidade numa comunidade tão dinâmica e eclética, vamos dizer assim, com setores tão diferentes entre si. Pois ele ganhou esse respeito nos últimos dez anos com muito trabalho, com muita luta, e dando demonstrações de muito respeito com a confederação que é nossa, é da comunidade, não é produto de ninguém. Esse é o lado difícil.
Em um país como o Brasil, onde estamos acostumados a ver dirigentes, políticos, gente que quer se apropriar da coisa pública, que quer o tempo inteiro delapidar patrimônio das entidades, uma pessoa como o Igor só deu demonstrações ao contrário disso, de total respeito àquilo que é da comunidade e não dele. E com isso virou praticamente unanimidade. Esse é o lado difícil, que é substituir um cara que atingiu este patamar, você tem uma linha de corte, um patamar de cobrança muito alto, de suceder um cara deste nível. E em compensação tem o lado muito positivo que é pegar uma entidade absolutamente saudável financeiramente e politicamente, muito bem encaminhada, com suas lutas muito claras. Essa nossa luta apartando o poker dos demais jogos, impedindo que os legisladores confundam o poker com os jogos de azar, é fundamental, e a gente pega uma entidade muito bem encaminhada e saudável estruturalmente falando.
Então tem o lado muito difícil, o lado ruim, mas tem o lado muito bom de sucedê-lo que é pegar o barco andando. E mais do que isso: ter a parceria dele. Porque ele fez questão de fazer uma nova eleição para a CBTH num momento que isso nem era preciso. Ele poderia ter continuado uma nova gestão, o estatuto permitia, mas achou que era importante forjar novos atores nessa luta e trazer gente nova para essa batalha. E renovar, ter um novo presidente, uma nova diretoria. Nós só aceitamos isso caso ele continuasse atuando nesse trabalho político que já vinha desempenhando em Brasília. E ele topou. É muito positivo você ter uma entidade saudável, muito bem definida politicamente nas suas lutas e contando com a presença dele nesse debate político”.
O sucesso do BSOP Millions deste ano e o crescimento no poker já tem uma ajuda sua, tanto antes de ser presidente, como agora neste último ano. Quais os principais objetivos na cativação de novos jogadores e manutenção de jogadores já antigos no poker?
Ueltom Lima: “A CBTH vem buscando uma nova identidade nesse próximo período. Nós passamos dez anos da nossa história com um debate, um discurso muito rígido, demonstrando claramente que o poker se tratava de um jogo de habilidade, um esporte mental, porque era necessário. Diferente de outros países do mundo em que o poker é jogado dentro de cassinos, boa parte deles, no Brasil por conta dos jogos de azar serem proibidos foi fundamental que a gente comprovasse que o poker se tratava de mais um esporte mental, um jogo de habilidade, para que a gente pudesse sobreviver no nosso país, e isso foi fundamental, nós não podemos apagar essa história. É isso que faz com que sejamos gigantes hoje em dia.
"Queremos dobrar um número de adeptos nos próximos três, quatro anos"
Acontece que, à medida em que estamos mais consolidados no conjunto da sociedade, entendemos que chegou o momento da gente dizer que o poker é um jogo de habilidade, mas também é muito divertido, também é um espaço de confraternização entre amigos, também é um espaço de lazer, também é muito bacana de se praticar, de se jogar, pois assim acreditamos que podemos trazer mais adeptos. Estamos falando de oito milhões de adeptos no Brasil hoje. Por que não dizer que podemos nos próximos 3 ou 4 anos dobrar esse número de adeptos com essa mudança de perfil, de identidade? A ideia é mostrar que o jogo do poker pode ser muito mais legal do que muita gente imagina. Não é só um espaço fechado para profissionais e caras muito bem preparados, mas também um espaço de lazer, de entretenimento entre as pessoas.
Cada vez mais notamos a presença de celebridades que praticam, artistas, músicos, ex-atletas, empresários bem-sucedidos. Temos visto de tudo. Universitários também. A gente está falando sobre tornar o poker cada vez mais acessível e interessante, mostrar que trata-se de um esporte que pode ser praticado como lazer, como entretenimento e tentar aumentar o máximo possível o número de adeptos do poker no Brasil”.
Neste momento a regulamentação dos jogos online é um dos temas mais falados. Qual o objetivo da CBTH neste tema? Como pensa em defender o poker como esporte?
Ueltom Lima: “Vou explicar qual é a grande briga nossa nos últimos dez anos na questão da regulamentação dos jogos. Nesse momento em que o país decide discutir a legalização dos jogos, o qual somos favoráveis, estamos num campo progressista e acreditamos que é preciso ter uma maioria progressista sobre os conservadores, que entendem que não devemos legalizar os jogos. Estamos no campo daqueles que acham que a legalização e a regulamentação são necessárias para o Brasil, e que é preciso maturidade dos políticos do país para que ocorra essa regulamentação dos jogos no país, dos jogos de azar, principalmente. Só que nessa discussão a nossa batalha, por outro lado, é também apartar o poker desses demais jogos. É mostrar claramente que o poker, como o xadrez, o gamão e os e-sports, fazem parte dos chamados jogos mentais, de habilidade. Não podem ser enquadrados como jogos de azar, como os de cassino. Então essa é a nossa grande batalha”.
Existiram países da Europa que passaram por um período de black-out (sem poker online) antes da regulamentação do jogo, e depois abriram de novo o jogo online como mercados segregados. Existe a possibilidade de isso acontecer no Brasil?
Ueltom Lima: “A nossa luta nos últimos dez anos, para mostrar que o poker é um jogo mental e não um jogo de azar, foi muito forte e nos tornámos muito grandes e respeitados. Não acredito que vá acontecer um black-out e não acredito que a gente vá retroceder. A gente tem um pouco de medo? Pode existir um pouco, mas não acreditamos nisso, de verdade. Com nossa força não permitiremos que aconteça o que aconteceu em outros lugares do mundo. Porquê? Porque em outros lugares do mundo não era necessário discutir se, o poker era ou não era um jogo de habilidade, diferente dos jogos de azar de cassinos. E no Brasil essa discussão foi necessária nos últimos 10 anos e o poker agora está mais do que consolidado como um desses jogos de habilidade.
"Nossa luta nos Últimos dez anos foi muito forte e nos tornamos muito grandes e respeitados"
Estamos no fim do ano e certamente já existem novos planos para o próximo ano. No que se refere ao poker ao vivo, como é que a CBTH quer continuar a dinamizar os clubes de poker e o poker brasileiro? Além do BSOP e outros torneios já conhecidos, existem novos circuitos nacionais ou internacionais no horizonte?
Ueltom Lima: “Na questão do ponto de vista mais esportiva, eu diria que o ano de 2017 foi gigante para o mercado de poker. Grandes eventos aconteceram no Brasil: WSOP Circuit, WPT, todos os BSOPs durante o ano, MasterMinds, eventos regionais organizados pelas federações, diversos torneios estaduais, torneios de clubes e agremiações pelo país. Foi um ano muito forte do poker, que culminou com um BSOP Millions gigantesco. Impressionante o volume das premiações e a quantidade de jogadores e de torneios. E isso demonstra claramente o tamanho e a força que o mercado de poker atingiu no Brasil. A nossa expectativa é que para 2018 seja mais forte ainda. Especialmente porque novos players estarão entrando no mercado.
São empresas que estão buscando o calendário para se posicionar com seus torneios aqui no país. Acrescento com o que a CBTH está pensando também para este ano. Existe um setor, um nicho, nesse mercado, que são pessoas que já frequentam sites de poker, clubes e agremiações, já participam de torneios regionais ou de grandes eventos. Mas ainda existe uma quantidade enorme de amantes do nosso esporte que ainda só brinca com os amigos, só assiste na TV ou joga algum aplicativo de brincadeira. E precisamos aos poucos trazer esses caras para se relacionar com nosso mercado. É o que queremos com essa nova campanha da CBTH #JoguePokerFaçaAmigos. E com isso tentar dobrar o número de adeptos nos próximos três, quatro anos.
"Queremos realizar grandes freerools espalhados pelo Brasil"
Uma das coisas que pretendemos fazer no ano de 2018 é realizar grandes freerolls espalhados pelo Brasil, para pessoas que nunca participaram de um grande evento. Esses iniciantes vão poder ter a experiência de jogar um grande evento, sem custo. Um grande evento que tem um diretor de torneio muito bem preparado, um floor, um dealer distribuindo as cartas na mesa, ou seja, vão ter a experiência de jogar em uma mesa profissional, em um grande salão. Essa proposta será encaminhada na primeira assembleia de 2018. Óbvio que é um projeto que demanda apoio e patrocínio, mas acho que temos total condição de fazer. Já estou adiantando, não foi aprovado, não foi definido. Acho que isso vai potencializar nosso mercado e a entrada de novos praticantes em nosso mercado para 2018”.
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